31 janeiro 2011

De novo (outra vez)!

Naquela sexta fui dormir a pensar nisto. Nas vezes que fiz da surdez, da dança, dos copos, da diversão, uma anestesia. Tornei-me zombie por vontade, abracei a apatia como uma velha amiga, sem ponderar o quanto me poderia corroer a alma. E foi o que fez. Comeu-me por dentro enquanto eu insistia em encher os buracos que ela criava com mais copos, mais noites, mais barulho, mais pessoas, mais tentações. A verdade é que a dimensão dos buracos negros que me abarcavam o dentro eram impossíveis de preencher com tais futilidades, mas eu insistia. Pisava os pedaços de espelho partido que me pavimentavam o chão imenso deste vazio negro, sangrava e fingia que não sentia. E era mentira. Sentia. Nas noites escuras em que o silêncio me inundava sentia e bem. Não tinha vontade de recomeçar e deixava que a ausência de querer me esbofeteasse uma e outra vez. Acabei negra, como as profundezas da minha morada, na beira da estrada de onde nunca sai.

No sábado seguinte não foi nada disso que quis. Apeteceu-me dançar, fingir que o mundo desaparecia porque voltei a estar nele. A ser do mundo. Permitir que o corpo se soltasse porque reclamei o que era meu, não o sendo nunca na totalidade.

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