Caríssimo (e quanto caro te tornas):
Não queria chegar a estes termos mas já há algum tempo que sinto que precisamos de conversar. Sempre foste parte importante da minha vida, da vida de toda a gente,mas, falo de mim, de quem verdadeiramente sou, e parece-me que sempre fui agradecida q.b. no que toca a essa percepção.
Umas vezes mais confusa, é verdade, mas sempre te mantive por perto, de uma maneira ou outra. De coração, não te sei localizar no espaço e no tempo, pois sempre te manifestas sem aviso prévio. Quando eu era menina e te procurava incessantemente, muito porque nos ensinaram nos contos de fadas que o deveríamos fazer, brincavas comigo ao esconde-esconde e, confesso-te, não achava graça nenhuma. Não sabia entrar no jogo e acabava sempre com os joelhos esfolados porque te procurava nos esconderijos mais descabidos. A certa altura deixei de me preocupar com todo o mal-estar que insistias em provocar-me e, num golpe de lucidez, percebi a receita. Ou achei que te tinha apanhado a essência, coisa de que já me capacitei ser impossível de acontecer.
Não importa, na altura achei que sim e fui mais feliz por te deixar seres companheiro de estrada em vez de um peso nos ombros.
Aos poucos e poucos fui-me acostumando a ver-te chegar e partir, com a mesma subtileza com que as estações do ano mudavam. Depois houve um dia, um período, uma época (como lhe preferires chamar) em que decidi construir uma fortaleza e brincar ao faz-de-conta, estilo Rapunzel presa na torre. Mas não era uma Rapunzel qualquer. Tinha decidido ser feliz naquela muralha erguida a força bruta, por ter encurralado comigo todos os que eram do coração e me faziam feliz, nunca esperando um príncipe encantado de corcel branco. Mas, mais uma vez, fizeste das tuas e achaste que a libertação deveria chegar com a delicadeza de gotas de chuva. Não pensei com os meus botões e por isso mesmo deixei que a chuva me ensopasse as sabrinas, enquanto eles me beijavam e eu te sentia invadires-me o peito, explorando terrenos que tentara proteger. Passou, como tudo passa, e o que trouxe de bom foram precisamente essas terras de ninguém que se tornaram minhas.
Prossegui. Desta vez armada em Indiana Jones da minha própria alma e quero reinventar-me. Descobri um reflexo no espelho que, por si só, me faz sorrir e ter vontade de mais. Olhando os defeitos e as qualidades eu amei-me, como sinto que me pedes a cada dia. Num sem fim de descobertas, voltaste a encontrar-me, mesmo que nunca me tenha escondido de ti. Com novas formas entraste na minha vida, com uma delicadeza de sopro marítimo e eu fui Menina do Mar.
É... Enfeitei-me de conchas, vesti-me de sal e arrastei uma cauda de algas e búzios. Fui inconstante, terna, revolta, desesperada, apaixonante e apaixonada. Tomaste as formas das marés e eu tomei-te as formas. Não achas que foi pedir de mais? Agora percebo o porquê desta anemia do ser, da alma, do querer. Sugaste-me, qual força centrífuga, e ainda não corei de novo. Ainda não senti o calor ardente do sangue a correr-me nas veias, nem o bater intenso no peito e é por isso que te escrevo.
Não sei até que ponto quero que voltes. Não sei até que ponto já remendei o que me fugiu por entre os dedos esguios. Sei apenas que não sou de me contentar e vou ganhar este jogo, de mão dada contigo. Podemos simplesmente dar umas tréguas?
Não queria chegar a estes termos mas já há algum tempo que sinto que precisamos de conversar. Sempre foste parte importante da minha vida, da vida de toda a gente,mas, falo de mim, de quem verdadeiramente sou, e parece-me que sempre fui agradecida q.b. no que toca a essa percepção.
Umas vezes mais confusa, é verdade, mas sempre te mantive por perto, de uma maneira ou outra. De coração, não te sei localizar no espaço e no tempo, pois sempre te manifestas sem aviso prévio. Quando eu era menina e te procurava incessantemente, muito porque nos ensinaram nos contos de fadas que o deveríamos fazer, brincavas comigo ao esconde-esconde e, confesso-te, não achava graça nenhuma. Não sabia entrar no jogo e acabava sempre com os joelhos esfolados porque te procurava nos esconderijos mais descabidos. A certa altura deixei de me preocupar com todo o mal-estar que insistias em provocar-me e, num golpe de lucidez, percebi a receita. Ou achei que te tinha apanhado a essência, coisa de que já me capacitei ser impossível de acontecer.
Não importa, na altura achei que sim e fui mais feliz por te deixar seres companheiro de estrada em vez de um peso nos ombros.
Aos poucos e poucos fui-me acostumando a ver-te chegar e partir, com a mesma subtileza com que as estações do ano mudavam. Depois houve um dia, um período, uma época (como lhe preferires chamar) em que decidi construir uma fortaleza e brincar ao faz-de-conta, estilo Rapunzel presa na torre. Mas não era uma Rapunzel qualquer. Tinha decidido ser feliz naquela muralha erguida a força bruta, por ter encurralado comigo todos os que eram do coração e me faziam feliz, nunca esperando um príncipe encantado de corcel branco. Mas, mais uma vez, fizeste das tuas e achaste que a libertação deveria chegar com a delicadeza de gotas de chuva. Não pensei com os meus botões e por isso mesmo deixei que a chuva me ensopasse as sabrinas, enquanto eles me beijavam e eu te sentia invadires-me o peito, explorando terrenos que tentara proteger. Passou, como tudo passa, e o que trouxe de bom foram precisamente essas terras de ninguém que se tornaram minhas.
Prossegui. Desta vez armada em Indiana Jones da minha própria alma e quero reinventar-me. Descobri um reflexo no espelho que, por si só, me faz sorrir e ter vontade de mais. Olhando os defeitos e as qualidades eu amei-me, como sinto que me pedes a cada dia. Num sem fim de descobertas, voltaste a encontrar-me, mesmo que nunca me tenha escondido de ti. Com novas formas entraste na minha vida, com uma delicadeza de sopro marítimo e eu fui Menina do Mar.
É... Enfeitei-me de conchas, vesti-me de sal e arrastei uma cauda de algas e búzios. Fui inconstante, terna, revolta, desesperada, apaixonante e apaixonada. Tomaste as formas das marés e eu tomei-te as formas. Não achas que foi pedir de mais? Agora percebo o porquê desta anemia do ser, da alma, do querer. Sugaste-me, qual força centrífuga, e ainda não corei de novo. Ainda não senti o calor ardente do sangue a correr-me nas veias, nem o bater intenso no peito e é por isso que te escrevo.
Não sei até que ponto quero que voltes. Não sei até que ponto já remendei o que me fugiu por entre os dedos esguios. Sei apenas que não sou de me contentar e vou ganhar este jogo, de mão dada contigo. Podemos simplesmente dar umas tréguas?
Entrança-me o cabelo, deixa-me ensinar-te uns truques de cartas, ou fica simplesmente na casa ao lado. Prometo, prometo mesmo não te abandonar para sempre e um dia destes toco-te à campainha, com um sorriso que transparecerá a minha vontade de ser, mais uma vez, contigo.